quinta-feira, 24 de março de 2011

O dia em que o Brasil rompeu com o Irã

Após anos de abstenções e votos contrários, o Brasil apoia a investigação do Conselho de Direitos Humanos da ONU no Irã. É o fim da boa vontade com os aiatolás
JOSÉ ANTONIO LIMA
UN Photo
NOVA POSIÇÃO
O plenário do Conselho de Direitos Humanos; Brasil se aliou aos Estados Unidos
A comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos e pela Europa, criou nesta quinta-feira (24) mais um mecanismo para pressionar o Irã. Em Genebra, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou a criação do cargo de investigador dos direitos humanos no Irã, um posto sensível e que deve aumentar a visibilidade das violações cometidas no país. A surpresa da votação foi o posicionamento do Brasil que, rompendo com o que ocorria no governo Lula, votou a favor da criação do cargo.

A iniciativa da criação do cargo foi tomada pelos Estados Unidos. Além do próprio voto, a diplomacia americana conseguiu outros 21 para estabelecer o Relator Especial dos Direitos Humanos no Irã. Sete países votaram contra a resolução e outros 14 se abstiveram. “Hoje vimos o conselho responder a um crônico e severo violador de direitos humanos, que é o Irã, e estamos muito felizes com isso”, disse, segundo a Associated Press, a embaixadora dos Estados Unidos no conselho, Eileen Donahoe. Ela ainda destacou a margem de votos conseguida e classificou a decisão como “um momento inspirador”.


A alegria americana certamente foi ampliada com a presença do Brasil na lista de 22 países que votaram contra o Irã. A decisão foi um claro rompimento da gestão da presidente Dilma Rousseff com a política externa do governo Lula. Em novembro do ano passado, quando a Assembleia Geral das Nações Unidas votou uma resolução de censura contra o Irã, o Brasil se absteve, uma decisão duramente criticada pelos Estados Unidos. Em sua primeira entrevista como presidente eleita, ao jornal americano The Washington Post, Dilma criticou aquela decisão. Segundo a embaixadora do Brasil no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Maria de Nazaré Farani, o respeito aos direitos humanos é prioridade para a presidente Dilma Rousseff e, por isso, o Irã merece atenção. “O Brasil acredita que todos os países, sem exceção, têm desafios a superar na área. A presidenta Dilma Rousseff deixou claro, em seu discurso de posse, que acompanhará com atenção os avanços na situação de direitos humanos em todos os lugares , a começar pelo Brasil”, disse a embaixadora àAgência Brasil.


Ao comentar sobre o Irã, Maria de Nazaré citou especificamente a pena de morte. É um tema que lembra o caso da viúva Sakineh Ashtiani, salva de um apedrejamento oficial por pressão internacional, e que expõe o péssimo histórico do Irã no tema. Em 2009, o país persa executou quase 400 pessoas, número inferior apenas ao registrado na China. “É motivo de especial preocupação para nós a não observância de moratória sobre a pena de morte, não apenas no Irã, mas em todos os países que ainda praticam a execução de pessoas como forma de punição”, disse a embaixadora.


Além de os direitos humanos serem um assunto de grande importância para Dilma Rousseff – ela foi torturada nas mãos do regime militar brasileiro – há um claro interesse do Brasil na mudança de posição. No domingo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deixou o Brasil sem apoiar de forma explícita a inclusão do Brasil, de forma permanente, no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Só aproximando sua posição da americana em assuntos polêmicos como o Irã o Brasil conseguirá mudar o discurso da Casa Branca. Washington jamais apoiará a inclusão de um novo país no Conselho de Segurança que entre no colegiado para contestar suas posições.

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