quarta-feira, 30 de março de 2011

Paixão: Até morrer, Cúcuta allez! Ou mesmo para além da morte

por Rui Pedro Silva, Publicado em 30 de Março de 2011 | Actualizado há 9 horas
Christopher Jácome foi assassinado na véspera de um jogo. A claque da equipa colombiana roubou o caixão e levou-o para as bancadas
Homenagem ao adepto de 17 anos levou claque a tomar atitude impensável e nunca vista no futebol
As claques de futebol estão rodeadas de cânticos exagerados que não se podem levar completamente à letra. Há quem repita insistentemente que lutarão pelo clube até à morte ou até a morrer. Outros exibem tarjas com inscrições semelhantes a "Se jogasses no céu morreria para te ver jogar". Na Colômbia há quem esteja determinado em provar que nem todas as declarações de seguidismo cego sejam apenas da boca para fora.

Esta é a história do colombiano Christopher Jácome, de 17 anos. O Cúcuta, uma das equipas colombianas de maior prestígio sempre foi o seu grande amor. O seu talento desportivo permanecerá uma incógnita, mas sempre se poderá dizer que morreu a jogar futebol. Ou melhor, a jogar à bola. Em La Libertad, a 280 quilómetros de Cúcuta, Jácome foi alvejado quatro vezes durante um jogo, não oficial, de futsal. Não há registo exacto do que aconteceu, mas o adepto colombiano levou dois tiros nas pernas, um nas costas e um no olho, acabando por morrer minutos depois já no hospital.

Diz quem o conhece que Christopher Jácome tinha um último desejo: que o velório fosse realizado no estádio do Cúcuta, o General Santander. A claque radical da equipa colombiana, que foi campeã pela primeira vez em 2006, fez tudo para cumprir o último desejo do amigo. No entanto, poucos pensariam que era possível, mais não seja porque a claque Barra del Indio está proíbida de entrar nas instalações do estádio por episódios de comportamento violento.

Ao contrário do que se escreveu no início deste texto, há quem siga mesmo tudo à letra. Os passos foram simples: os adeptos roubaram o caixão durante o velório, esperaram que os responsáveis de segurança do estádio abrissem as portas a 15 minutos do final do jogo com o Envigado, e entraram livremente perante a perplexidade de todos. As versões do que realmente aconteceu diferem: o coordenador de situações de emergência e segurança do estádio acusa os adeptos de terem maltratado física e verbalmente os membros da segurança. Os amigos e família de Jácome garantem que não houve recurso à força.

As reacções foram muitas e quase sempre reprovando a atitude. Pedro Sarmiento, treinador do Envigado, lembrou que os espaços desportivos e fúnebres não devem ser confundidos enquanto o médico Julio Rivera foi mais longe: "Não deixam entrar as claques, mas um cadáver sim. Esta é a única parte do mundo em que isto pode acontecer". Apesar de tudo, os responsáveis pela segurança do estádio, surpreendidos pela acção, não conseguiram comprovar se a vítima estava realmente dentro do caixão. A homenagem estava feita. E está a correr mundo.

Fonte: Ionline

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